Um curioso estudo pela Universidade de Sidney e abordando, sem dúvida, um tema bem curioso: a importância do estímulo dos aplausos dos espetadores no desenrolar de um esforço prolongado!

 Laboratorialmente, ficou demonstrado que tal estímulo exterior, normalmente associado aos encorajamentos por parte do treinador, do público, etc., acabam por reforçar a dinâmica dos atletas, elevando o seu grau de sensibilidade à fadiga e reforçando significativamente as impulsões nervosas face à estrutura muscular que se encontra em atividade.

Estes mecanismos serão responsáveis pelo facto dos atletas bem preparados obterem melhores resultados em plena competição do que nos treinos.
Assim, os dados agora apurados revelam, de certa forma, que existem.para um dado grupo de atletas, valores que chegam a ser 53% mais positivos se os esforços forem desenvolvidos em presença de um público caloroso, comparativamente aos executados em estádios vazios, o que revela a importância que tem para a obtenção de marcas a existência de um bom ambiente competitivo envolvente.

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Note-se que se os espetadores começam a encorajar vivamente o atleta logo aos primeiros sinais de fadiga, o rendimento final obtido poderá cifrar-se num aumento de quase 2,5 vezes maior (!!!) quando comparado com esforços feitos sem qualquer público a incentivá-lo. Porém, se isto é particularmente válido para os atletas experientes, o mesmo não acontece com os corredores novatos, tendo-se provado que tal tipo de encorajamento por parte do público irá “obrigar” o desportista a aumentos de ritmo que conduzem a um esgotamento precoce, o que, numa prova de meio fundo ou fundo, acaba por ser muito prejudicial, e isto tendo em atenção o detalhe técnico de que, para todo e qualquer corredor, o melhor tempo cronométrico final é sempre aquele que é obtido nas provas desenroladas em ritmo uniforme.

Compreendermos o facto de alguns atletas novatos acabarem por obter melhores marcas em certos testes efectuados nas sessões de treino e não em competição. Outro pormenor testado na Universidade de Sidney teve em atenção o facto de existir uma percentagem cada vez maior de atletas que utilizam o som da música como mais um estímulo capaz de os galvanizar para melhores resultados, não só em dias de competição como de treinos.

A vulgarização, nos últimos vinte anos, dos pequenos aparelhos tipo “MP3” deverá ser a principal causa da apetência muito acentuada dos atletas para escutarem música quando em pleno esforço. O combate à fadiga, ou melhor, as respostas cárdio-vasculares aos esforços musculares no decorrer de movimentos ritmados, como acontece com a nossa corrida, pode passar pelo recurso à escuta de um tipo de música que vá ao encontro dos gostos do atleta. A motivação psicológica que está associada a um som ambiente agradável pode tornar-se muito forte e os resultados obtidos em laboratório demonstram a existência de algumas modificações cárdiorespiratórias significativas no atleta quando se comparou um esforço ao som da música escolhida pelo próprio ao de uma cassete musical que ele não apreciava.

Se é certo que a escuta de uma música agradável conduz sempre a um bom desenrolar dos esforços superiores a 45 minutos, há que associar ainda a tudo isto a questão do ambiente que envolve o desportista, quer ele se encontre em recinto fechado, quer ao ar livre, daí a necessidade de optar pelo pequenos aparelhos “MP3” nestes últimos casos, preferindose o chamado “som ambiente” quando a actividade decorre em sala. Por outro lado, se estivermos perante uma actividade de grupo, as vantagens de todos escutarem o mesmo tipo de música são multo mais positivas.

No caso da corrida, prática eminentemente individual, a utilização de música exactamente-nas mesmas condições, ou seja, só escutada por cada um dos interessados, apresenta ainda a particularidade de fazer com que o desportista deixe de se concentrar especificamente no esforço, acabando por desviar os seus polos de atracção para a música, situação, que no caso dos esforços prolongados, pode ser altamente benéfica,-já que a corrida é, em certa medida, uma actividade uniforme, ritmada, e sem grandes oscilações de esforço.

Importa, ainda, ter presente que mesmo nas provas de grande concentração momentânea, como acontece, por exemplo, nos saltos, a “libertação” ocasionada pelo som da música faz aumentar a confiança e a boa disposição do atleta para o momento específico que o espera, razão pela qual, um maior número de atletas internacionais de saltos não perde oportunidade de recorrer, cada vez mais, aos benefícios de uma boa escuta musical.

A terminar, nesta breve abordagem sobre influência do som ambiente no desenrolar dos esforços físicos, citamos o estudo levado a efeito na Universidade de Tóquio, que envolveu 100 especialistas de maratona com níveis competitivos situados entre as 2h30 e as 2h45 e que tinha particular incidência nas chamadas sessões longas semanais de preparação específica para a disciplina, isto é, treinos com 120 minutos de duração, a desenvolver a um timo entre os 4’15” e os 4’30” por quilómetro.

Os 99 corredores foram divididos em três grupos de 33 elementos; procurando-se uma uniformidade atlética  em cada um deles. No primeiro grupo (A), ao cabo de 90 minutos de corrida, os atletas passavam a fazer a última meia-hora com “MP3”, escutando a música favorita.

No segundo (grupo B), o processo era o mesmo, mas apenas para os últimos 15 minutos de treino. No terceiro (grupo C), toda a sessão decorria sem o recurso à escuta de música.

Depois de 8 sessões longas, Ou seja, num conjunto de oito semanas de preparação específica para a maratona, verificaram-se os seguintes dados: 

No grupo A, o ritmo de treino dos últimos 90 minutos foi quase sempre mais rápido do que na parte inicial da sessão e os atletas terminavam o treino com boa disposição, quase com vontade de correr ainda mais. 

No grupo B, o ritmo dos últimos 15 minutos foi sempre mais rápido e mesmo nos corredores que denotavam-dificuldade ao cabo de 1h45 de esforço, a escuta da música nos últimos 15 minutos levava-os a “aceitar” mais facilmente o desenrolar do esforço de corrida. 

No grupo C, o ritmo de treino denotava maior lentidão e dificuldade na última meia hora. Perante estes dados, há que reflectir sobre os benefícios da escuta de boa música em plena corrida, aspecto que uma boa parte dos corredores já não dispensa, quer em provas, quer em algumas das suas sessões de preparação.